Doze desafios para vencer o ebola

12/11/2014


 

 

Reunidos no encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical, na semana passada, em Nova Orleans, alguns dos maiores especialistas de várias partes do mundo listaram as grandes dificuldades que vêm encontrando no combate ao ebola. Acostumados a lidar com surtos pequenos e isolados da letal febre hemorrágica (o mais grave até então foi registrado em 1976, com 280 mortes), os médicos se mostraram despreparados para as dimensões dessa epidemia, que já vitimou nada menos que 4.960 pessoas e continua se expandindo, sobretudo em Serra Leoa, Libéria e Guiné.

 

 

Serra Leoa anunciou o registro de um número recorde de novas infecções por ebola, mostrando que a epidemia continua fora de controle. O governo confirmou a notificação de 121 casos só no domingo — a maior cifra diária até hoje. Mas o problema seria muito pior. As Nações Unidas estimam que há uma subnotificação de até 50%.

 

 

Embora o ritmo do crescimento tenha diminuído na vizinha Libéria, a ONG Médicos Sem Fronteiras alertou para a importância de se manter o trabalho de campo. Os profissionais temem que uma falsa sensação de segurança faça com que os números voltem a disparar.

 

 

 

1. AMPLIAR A LOGÍSTICA

 

O padrão, até hoje, era montar centros de atendimento com até 20 leitos e rastrear todos os contatos do paciente para impedir o alastramento da doença. Agora, já há centros com 250 leitos, e eles são insuficientes. Para manter estruturas tão grandes, são necessários os mais diferentes profissionais, como, por exemplo, epidemiologistas, infectologistas, antropólogos, psicólogos. Também se requerem pessoas para descontaminar casas, realizar enterros de forma segura e transportar amostras, entre várias outras tarefas.

 

 

2. LIDAR COM A ROUPA DE PROTEÇÃO

 

A roupa de proteção que os especialistas têm de usar para atender aos doentes sem se infectar é extremamente desconfortável. Sob o calor africano, só é possível trabalhar com ela por, no máximo, uma hora e meia. “O corpo superaquece, e não há como continuar”, contou o membro do Médicos Sem Fronteiras, Armand Spricher. Por conta disso, são necessários mais profissionais do que o normal, a fim de que haja um rodízio.

 

 

3. COMPENSAR A FALTA DE PROFISSIONAIS

 

Há poucos profissionais de saúde com experiência em ebola. Como todos os surtos até hoje haviam sido pequenos, poucos médicos e enfermeiros tiveram um treinamento de campo. A falta de experiência prática pode ser um problema grave no caso de uma doença contagiosa de letalidade tão alta. Além disso, não é qualquer profissional que aceita trabalhar em condições tão adversas.

 

 

4. ENTENDER A EVOLUÇÃO DA DOENÇA

 

Os infectologistas reunidos em Nova Orleans deixaram claro o quão pouco se sabe ainda sobre a própria evolução da febre hemorrágica no organismo humano. As hemorragias, por exemplo, só aparecem em 30% dos casos, mas não necessariamente só nos mais graves. Algumas pessoas apresentam manchas na pele; outras, não.

 

 

5. DEFINIR OS TRATAMENTOS

 

Tampouco há consenso sobre o melhor tratamento. Embora não haja uma terapia específica, há medidas que podem ajudar na recuperação do paciente. Mas não há consenso. Alguns defendem, por exemplo, a hidratação oral (como alternativa mais barata e eficaz). Outros dizem que a intravenosa seria mais eficaz. Médicos acreditam que o uso da terapia antiviral genérica poderia ser produtiva, bem como a prescrição de coagulantes. Vários profissionais pedem o tratamento concomitante contra a malária, para evitar a interação das duas doenças.

 

 

6. ESTABELECER MODELOS DE TESTE

 

Animais como camundongos, porquinhos da índia e hamsters não se mostraram muito eficazes como modelo de testes de drogas e vacinas contra o ebola. De acordo com os especialistas, os modelos que se revelaram mais eficazes foram com macacos. Mas há muitas restrições e implicações éticas ligadas ao uso de primatas em pesquisa.

 

 

7. PADRONIZAR AS DROGAS E TERAPIAS

 

Terapias de transfusão de sangue e de plasma de pessoas curadas, bem como alguns medicamentos, estão sendo usados de forma experimental. Como o número de casos ainda é muito pequeno, não há ainda nada constatado em definitivo.

 

 

8. DESENVOLVER VACINAS

 

Existem atualmente dez produtos sendo desenvolvidos. Dois deles estão em estágio mais avançado e são baseados no vírus atenuado. Há chances concretas de já termos um imunizante aprovado no ano que vem.

 

 

9. COMPREENDER A CULTURA LOCAL

 

Compreender a cultura local é crucial para debelar a epidemia. Somente antropólogos, por exemplo, foram capazes de entender que a maior fonte de transmissão da doença eram os sepultamentos tradicionais e a manipulação dos cadáveres envolvida nesses rituais (com até 20% dos casos). A resistência aos médicos e a desconfiança das unidades de saúde são outro problema grave.

 

 

10. COMBATER O PRECONCEITO

 

O medo e a falta de informação são graves obstáculos ao tratamento e ao rastreamento de novos casos. Temendo serem discriminadas, as pessoas tendem a se esconder, em vez de buscar tratamento — agravando a disseminação.

 

11. DRIBLAR A INFRAESTRUTURA RUIM

 

Os países mais atingidos pela epidemia, Serra Leoa, Guiné e Libéria, são extremamente pobres e têm uma infraestrutura de saúde precária. Isso contribuiu para a disseminação da doença e, atualmente, dificulta sua contenção.

 

 

12. EXPANDIR OS LABORATÓRIOS

 

Pela precariedade das estruturas de saúde, faltam laboratórios de referência, capazes de fazer o diagnóstico da doença rapidamente, atrasando o tratamento.

 

 

 

Fonte: O Globo

 


Sindicato Comércio Varejista Produtos Farmacêuticos do Município do Rio de Janeiro

Av. Almirante Barroso, 2 – 16 e 17º andar – Centro – 20031-000 – Tel: 21 2220 8585